1 – O Cristo Celestial Pr. Olivoandes Júnior[1]
Assim como sua entrada no mundo foi sobrenatural, assim o foi sua partida.
Jesus deixou o mundo porque havia chegado o tempo de regressar ao pai. Sua partida foi uma “subida”, assim como sua entrada ao mundo havia sido uma “descida” (Ef 4.8-10).
Suas aparições e desaparições depois da ressurreição foram instantâneas; a ascensão foi, no entanto, gradual — “vendo-o eles” (At 1.9). A ascensão não foi seguida de novas aparições, nas quais o Senhor surgia entre eles em pessoa para comer e beber, conforme se vê em João 21.1,4,9-14.
Essas aparições esporádicas, durante os 40 dias em que Jess viveu pós-ressurreto aqui na terra, terminaram com a ascensão. Sua retirada da vida terrenal, onde vivem os homens aquém da sepultura, foi de uma vez por todas.
Dessa hora em diante os discípulos não iriam pensar nele como o “Cristo segundo a Carne”, isto é, como vivendo numa vida terrenal, e sim, como o Cristo glorificado, vivendo uma vida celestial na presença de Deus.
Desse modo, a ascensão vem a ser a linha divisória entre dois períodos da vida de Cristo: do nascimento até a ressurreição, ele é o Cristo da história humana, aquele que viveu uma vida humana perfeita sob condições terrenas adversas. Desde a ascensão, ele é o Cristo da experiência espiritual, que vive no céu e tem relacionamento com os homens por meio do Espírito Santo (Mt 28.20; Jo 14.23; 1 Co 5.19).
2 – O Cristo Exaltado.
O texto afirma pelo menos dois fatos marcantes: A expressão “subia” – subiu (At 1.10 ARA), e a expressão foi “elevado às alturas” (At 1.9 ARA). A primeira representa a Cristo como entrando na presença do pai por sua própria vontade e direção. A segunda acentua a ação do pai pela qual ele foi exaltado em recompensa por sua obediência até a morte.
O Dr. Swete[2] assim comenta o fato: “nesse momento toda a glória de Deus brilhou em seu derredor, e ele estava no céu. Não lhe era a cena inteiramente nova; na profundidade do seu conhecimento divino, o filho do homem guardava lembranças das glórias que, em sua vida anterior à encarnação, gozava com o pai “antes que o mundo existisse” (Jo 17.5).
Foi em vista de sua ascensão e exaltação que Cristo declarou:
“É-me dado todo o poder (autoridade) no céu e na terra (Mt 28.18).
3 – O Cristo Soberano
Cristo ascendeu a um lugar de autoridade sobre todas as criaturas. Ele é a cabeça de todo varão, o cabeça de todo o principado e potestade. Todas as autoridades do mundo invisível, tanto como as do mundo dos homens, estão sob seu domínio (1 Pe 3.22).
Ele possui essa soberania universal para ser exercida para o bem da igreja, a qual é seu corpo; Deus “sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constitui como cabeça da igreja”. Em um sentido muito especial, portanto, Cristo é a cabeça da igreja. De modo que essa autoridade se manifesta de duas maneiras:
- Pela autoridade exercida por ele sobre os membros da igreja. A sujeição da igreja por Cristo é uma submissão voluntária, da mesma maneira como a esposa o é ao esposo. Os cristão primitivos tinha uma fala que ia para além de um credo era na verdade uma regra de vida: “Jesus é Senhor”.
- O Cristo glorificado não é somente o poder que dirige e governa a igreja, mas também a fonte de sua vida e poder. O que a videira é para a vara, o que a cabeça é para o corpo, assim é o Cristo vivo para sua igreja. Apesar de estar no céu, a cabeça da igreja, Cristo está na mais íntima união com o seu corpo na terra, sendo o Espírito Santo o Vínculo (Ef 4.15).
4 – O Cristo que prepara o caminho
A separação entre Cristo e sua igreja na terra, ocasionada pela ascensão, não é permanente. Ele subiu como precursor a preparar o caminho para aqueles que o seguem. Sua promessa foi: “onde eu estiver, ali estará também o meu servo” (Jo 12.26).
O termo “precursor” é primeiramente aplicado a João Batista como aquele que prepararia o caminho de Cristo (Lc 1.76). Como João Batista preparou o caminho para Cristo, assim também o Cristo glorificado prepara o caminho para a igreja.
Esta esperança é comparada a uma “âncora da alma segura e firme” e que penetra ao Interior do véu, onde jesus, nosso percursor, entrou por nós (Hb 6.19,20).
Ainda que agitada pelas ondas das provações e das adversidades, a alma do crente fiel não pode naufragar enquanto sua esperança estiver firmemente segura nas realidades celestiais.
Sabemos que, em sentido espiritual, a igreja já está seguindo o Cristo glorificado; e tem-se assentado nos lugares celestiais, nEle (Ef 2.6), de modo que os crentes, por meio do Espírito Santo, espiritualmente e no coração, já seguem o seu Senhor ressuscitado; entretanto, haverá uma ascensão literal correspondente à ascensão de Cristo (1Ts 4.17; 1 Co 15.52).
Essa esperança dos crentes não é uma ilusão, porque eles já sentem o poder de atração do Cristo glorificado (1Pe 1.8); com essa esperança, Jesus conforta os seus discípulos antes de sua partida (Jo 14.1 a 3).
Em resumo, quais os valores práticos da doutrina da ascensão?
1) O conhecimento do Cristo glorificado, a quem brevemente esperamos ver, é um incentivo à santidade (Cl 3.1-4; Hb 12.14).
2) O conhecimento da doutrina da ascensão de Cristo, proporciona um conceito correto da igreja. A crença em um Cristo meramente humano, levaria o povo a considerar a igreja como uma sociedade meramente humana, útil, sim, para propósitos filantrópicos e morais, porém destituída de poder e autoridade do sobrenatural.
Por outro lado, o conhecimento do Cristo glorificado resulta no reconhecimento da igreja como organismo vivo, sobrenatural, cuja vida divina emana da cabeça, isto é, do Cristo glorificado.
Assim sendo, a esperança no Cristo glorificado é um incentivo para a alegria e a esperança de seu breve regresso.
“…e se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez” (Jo 14.3).
[1] Pastor auxiliar da Assembleia de Deus em São Luis (IADESL).
[2] Henry Barclay Swete (14/03/1835 – 10/05/1917) foi um estudioso bíblico inglês. Ele se tornou Regius Professor de Divindade em Cambridge em 1890, e é conhecido por seu comentário de 1906 sobre o Livro do Apocalipse, um best seller, e outras obras de exegese e sobre Cristo, como As Aparições de Nosso Senhor depois da Paixão (1907; 2a ed. 1908), onde ele relata sobre as aparições de nosso Senhor Jesus Cristo no pós-ressurreição e os detalhes que nos estimular a crer nEle como Salvador Eterno.