“Manda estas coisas e ensina-as. Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê exemplo dos fiéis: na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza”. 1 Tm 4.12
INTRODUÇÃO: Para se entender o texto em apreço (4.12ss), se faz necessário observar o contexto, desde o primeiro versículo e buscar o que Paulo estava buscando e incentivando seu filho ministerial Timóteo que estaria cuidando da igreja em Éfeso. O que ele busca é fazer de Timóteo ‘UM BOM MINISTRO DE CRISTO JESUS. Logo, ninguém é bom de si mesmo ou naturalmente; muito pelo contrário, o homem (ser humano) é mau por natureza. Quando ele diz no v. 4 que toda criatura de Deus é boa, está falando daquilo que serve para o alimento, que, com oração, palavra e ações de graças, é santificado para ser in gerido e não do homem em si. Quanto ao homem, é mau, ainda que Deus seja bom para com ele.
O BOM MINISTRO DE CRISTO, vv.6-10.
Ao começar o texto sobre a diligencia no ministério, a primeira ‘perícope’ que pega os v.6-10, Paulo aborda o ser Bom Ministro de Cristo e o que precisa para tal, dentre as recomendações está a temporaneidade do EXERCÍCIO FISICO, vv.7,8. Paulo não está dizendo que não se deve exercitar o corpo. Por certo, o cuidado com o corpo como templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20), precisa estar sob cuidados da pessoa, por ser também o instrumento pelo qual se trabalha (Rm 12.1,2). O que o tutor de Timóteo está enfatizando é que os exercícios físicos, beneficiam o corpo somente nesta vida, enquanto os exercícios espirituais (piedade), nos ajudam hoje e na eternidade. Logo, o obreiro precisa cuidar do corpo e da alma, priorizando a piedade (relacionamento do homem para com Deus). Tanto uma coisa quanto outra: exercício físico e espiritual, requer DISCIPLINA, logo, Paulo está dizendo: se dedique à piedade (a Deus), com a mesma disciplina que um atleta tem para competir a uma maratona: paulatina, persistente e decididamente.
Nunca deixe que seu corpo seja seu senhor e sim seu servo; isso chama-se: domínio próprio. Como sugestão embasada em Hb 5.14, quanto aos que devem ser exercitados, temos algumas atitudes necessárias para o exercício da piedade: oração, meditação, introspecção, comunhão, serviço, sacrifício, sujeição à vontade de outros… que nos levam à maturidade espiritual.
Exercitar-se espiritualmente não é tarefa fácil, por isso as recomendações. Quando se olha com cuidado para o v.10a, onde se lê ‘trabalhamos e labutamos”, dá ideia de esforço sobremodo ou agonizar. É o atleta ir ao limite do que os seus músculos suportam, para que esteja preparado para a competição. Espiritualmente, isto quer dizer: o cristão, para alcançar a perfeição, diante de Deus e dos homens, ‘para a gloria de Deus’, deve se esforçar ao máximo que puder. Olhando para o que Paulo escreveu aos Filipensses 3.12-14: “Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Jesus. Irmãos, quanto a mim, não jugo que haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
O exercício físico beneficia por assim dizer, somente quem o pratica, enquanto que o exercício da piedade (espiritual), beneficia a pessoa e quem lhe cerca. Como a busca de Paulo era pela excelência no ministério (v.6), ele se dedica a transformar (com o ensino) Timóteo em um ´bom obreiro de Cristo Jesus`. As qualidades para se ser um bom obreiro, estão nas duas cartas pastorais de Paulo a Timóteo. O pastor Antonio Gilberto da Silva, tomando 1 Tm 4.6 e Mt 25.21,23, as selecionou cuidadosamente. São elas:
*Ser sadio na fé, no viver e na doutrina bíblica.
*É ser equilibrado em tudo, capaz, aprovado, (2 Tm 2.15).
*É ser limpo quanto ao bom combate espiritual, (2 Tm 4.8).
*É ser persistente e duradouro quanto ao seu trabalho, e aos frutos deste.
*Ele é fiel. Lembrando que só podemos ser fieis porque Fiel é Deus.
*Ele é leal, mesmo sob prova.
*É Humilde: (…). O humilde aprende mais, resiste mais, aparece pouco, mas faz muito.
*Tem espiritualidade
*É consagrado e permanece se consagrando.
*É dócil – não anda resmungando, maldizendo.
*É fácil de se lidar – não põe dificuldades. É o oposto do difícil que se tem dificuldades para lidar com ele sobre qualquer assunto e até com as ovelhas. O obreiro difícil se torna difícil colocá-lo em movimento, fazê-lo funcionar. Ele é difícil de participar, comparecer, cooperar e costuma ser evitado. O obreiro que teve má formação, ministerial pode ficar estragado pelo resto da vida se não acordar para a realidade dos fatos.
*É diligente, não tem comportamento pessimista – sempre vê o que falta e está fora de ordem.
*É esforçado – faz a sua competência e é proativo com outras tarefas.
*É discreto, controla seus impulsos ao olhar, pensar, falar e agir.
*É sociável – em família, com a igreja e com os seus pares de ministério.
*É um bom crente. Um bom crente é criado (se desenvolve), não fabricado (estático).
*É um bom servo (ministro) – vive para servir.
*Cultiva a fé – o espiritual, a espiritualidade, o sobrenatural.
Com esse ‘pano de fundo’, vamos entender o texto em apreço, (1 Tm 4.12).
UMA LIDERANÇA EFICAZ, vv. 11,12.
I-Paulo faz uma advertência ao jovem obreiro: “Ninguém despreze a tua mocidade…”. Isto vem de “neotés – jovem, juventude. Por ser Timóteo um homem jovem entre 30 e 35 anos, portanto, não na idade costumeira em que os homens começavam a assumir grandes responsabilidades, inclusive de governos e gestões que era a partir dos 40 anos, seu tutor espiritual estava lhe injetando ânimo para trabalhar de cabeça erguida e fazer acontecer a obra de Deus sob seus cuidados.
Não obstante a recomendação, Paulo destaca que, para Timóteo ter sucesso diante dos homens, ele precisava seguir seis passos importantes todos os dias, para ser visto como um – Bom Obreiro de Deus. Ele precisava ser EXEMPLO:
1-Na palavra: “logos” – palavra. O sentido aqui é vasto; vejamos.
1.1-No falar de maneira inteligente. Uma palavra dita, proferida, não retorna. A manifestação no poder do discurso, deve ser segundo os oráculos (palavra revelada) de Deus. Mt 8.8: “O centurião respondeu: Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado”; (em contraste, Jesus diante de Herodes, sendo interrogado (Lc 23.9), não deu uma palavra. Tempo de falar e tempo de ficar calado.
1.2-Em manter seus pensamentos e palavras sob o domínio do Senhor. Isto fala de alguma coisa dita, inclusive por pensamento; falar a respeito de um tema, desenvolvendo um raciocínio onde as suas faculdades mentais são aguçadas – ter o cuidado com o que pensa e com o que fala, ser exemplo.
1.3-No transmitir a palavra de Deus. Usando do poder da fala, da transmissão, da oratória, da eloquência – ser justo como o é a Palavra Inspirada – o que ele diz está dito, não devo acrescentá-la, diminuí-la, conjectura-la, supô-la etc.
1.4-Na expressão e/ou declaração de um sentimento. Pense antes o que irá dizer, como irá expor seus pensamentos.
1.5-Ser fiel à doutrina bíblica, incluindo a pregação e/ou a exposição das Escrituras Sagradas.
“se a Bíblia diz, eu tiro o chapéu; se a Bíblia diz, ela tem razão; quando a Bíblia fala, eu me calo e me rendo a ela” – Estêvam Ângelo de Souza”.
2-No trato ou conversação: “anastrophé” – comportamento, conversa. Manter uma conversa e linguagem sadia; viver em harmonia; tratar com cordialidade.
- a) Linguagem sadia, o que a Bíblia nos orienta?
- b) Viver em harmonia: implica em concordância, acordo ou equilíbrio entre elementos, seja em música, arte, relações interpessoais etc.
- c) Cordialidade: qualidade de alguém que demonstra afeto, simpatia, respeito, gentileza (?).
3-No amor: “agapé” – amar com afeição; amar com consideração; fazer e amar de boa-vontade; amar sendo benevolente. Paulo em 1 Co 4.21, pergunta à igreja local: “Irei ter convosco com vara ou com amor?” Ou seja, irei com o coração cheio de amor. Aos Cl 1.13 ele diz que o Reino de Deus é o Reino do Filho do seu Amor – de onde emana o agapé, amor de Deus para com os perdidos. Jesus se colocando como a expressão máxima do amor de Deus O Pai, quando disse em Jo 15.12,13: “O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”. Em 2 Co 13.11c: “E o Deus de amor e paz estará com vocês”. Isso mostra que Deus não só é a fonte do amor, Ele é o próprio amor em Si. Em 1 Co 13.1-13, Paulo nos mostra o caminho mais excelente e que deve ser trilhado pelo homem de Deus – o caminho do amor. Ali se vê todas as características desse fruto do Espírito, que precisam ser observadas no nosso viver diário. O amor não deve ser atrelado a um mero sentimento que hoje existe e amanhã poderá não existir; ele deve ser uma prática diária de todo bom cristão. O homem natural ama ‘se e quando’, ou seja, impõe condições para amar, contudo, Deus nos ensina que o amor deve ser incondicional, sem limites, sem reservas, sem barreiras, sem imposições. Deus amou ‘de tal maneira’ que deu o que tina de melhor. Cristo amou a ponto de a si mesmo se entregar em favor da humanidade perdida. Agora, ele só exige de nós que ‘amemos como ele amou’. Em se falando do amor no SERVIÇO CRISTÃO, temos uma séria recomendação bíblica em 1 Co 16.14: “E todos os vossos atos sejam feitos com amor”. O obreiro de Deus precisa entender que se ele não trabalhar no Reino de Deus por amor, nada adiantará aos olhos do Senhor. Ademais: o amor deve ser a divisa do cristão; o obreiro precisa ter profundo apego aos seus irmãos e verdadeira preocupação (compaixão) com o próximo; se o homem de Deus tem amor em sua vida, buscará sempre o bem, nunca será um vingador, alguém que odeia, mas, sempre buscará o perdão, ainda que não seja por muitos entendido.
4-No espírito: “pneuma” – espírito. Aqui, espírito racional, princípio vital, disposição mental, elemento de vida. Veja algo importante: Em 1 Ts 5.23, a Bíblia mostra três palavras distintas: “pneuma – espírito, psyché – alma e soma – corpo, que devem ser conservados íntegros para o dia de Cristo Jesus. O autor da carta aos Hebreus 4.12 registrou que a palavra (“logos” – Verbo Vivo ou “rhéma” – Palavra Escrita), penetra até a divisão da alma – psyché e do espírito – pneuma… O homem de Deus precisa ‘’Andar no Espírito, Viver no Espírito e ser Guiado pelo Espírito, Gl 5.16,18,25”, para que o seu espírito tenha disposição dócil para servir a Deus e aos outros, de tal maneira que isso agrade aos olhos do Senhor. De nada adianta servir a Deus com outro qualquer sentimento, pois, o Deus que nos chamou com santa vocação, sabe perfeitamente mensurar nosso trabalho, motivação, esforço, desgaste, investimento etc.
5-Na fé: “pistis” – fé. Persuasão, crença, convicção moral, confiança em Cristo. De forma abstrata – constância na fé que abraçou, fidelidade no que faz, certeza de um projeto, continuidade naquilo que começou. Interessante é que “pistos” – é objeto ou sujeito digno de confiança, confiável, verdadeiro, fiel – Se aplicarmos este termo a Deus, então Deus está dizendo: Eu Sou Confiável! Agora, você que recebeu do Meu Espírito, precisa também transmitir confiança aos que te cercam. Um obreiro precisa manter uma fé sem fingimento.
6-Na pureza: “hagneia” – pureza, castidade. Dá a ideia de estar livre de corrupção, não contaminado. O sinônimo disto é “katharotés” – estado de permanecer puro. Éfeso era uma cidade promiscua, onde a impureza sexual imperava. Era lá que o jovem pastor Timóteo estava pastoreando e precisava não só manter-se fisicamente como puro deveriam estar seus pensamentos. A ideia ou verdade absoluta é que, se Cristo te purificou pelo sague derramado na cruz e pela lavagem da água pela palavra, foi por isso que ele te vocacionou para o exercício do Santo Ministério o do Serviço Cristão; então, ele espera que permaneças puro diante dele e dos homens.
REGRAS PARA SER UM BOM MINISTRO – EXEMPLO DOS FIÉIS, vv.13-16.
A ideia aqui é: para que o teu progresso seja manifesto, v.15. Progresso aqui é uma linguagem militar que quer dizer avanço, ir à frente. É aquele soldado que vai adiante da tropa, tirando os obstáculos do caminho, preparando a passagem para os que vêm atrás, lhe seguindo. É exatamente esse o trabalho do obreiro de Deus; é assim que Deus espera. Muito simples de entender: Deus preparou tudo para o plano da salvação; João preparou o caminho para introduzir o Cordeiro de Deus; Jesus ‘O Caminho’, nos abriu acesso a Deus e agora, Ele nos usa para guiarmos o Seu povo pelo Caminho, até chegar à perfeição, Ef 4.12,13ss.
1-Ter apego às Sagradas Escrituras: “persiste em ler”, v.13. Dedica-te, concentra-te. Se olharmos cuidadosamente para os vv.1-4, veremos as razões pelas quais Paulo adverte a Timóteo para ler (em público, no culto) a palavra de Deus, para poder com ele exortar e ensinar. Isto era feito no AT, Jesus assim o fez, Paulo estava advertindo que se continuasse a fazer. Ninguém tem maior autoridade que a Bíblia para corrigir uma vida que veio de um mundo de trevas para a luz do Santo Evangelho de Cristo.
- a) Se o obreiro não ler, como irá ensinar? Só se ensina com eficácia o que se aprendeu e pratica.
- b) Com a leitura e o ensino, se exorta (encoraja), corrige o erro e ajuda a salvar àquele que se dispôs a seguir a Cristo.
2-Não negligenciar o Dom de Deus, v.14. “carisma” – dom – dom da graça. “A graça foi dada a cada um de nós, segundo o dom de Cristo, Ef 4.7”. Nós entendemos que os Dons de Deus, são dados ou concedidos, pelo Espírito Santo de Deus que está com a igreja, adornando-a, para que o Reino de Deus que este entre nós (ainda não na sua totalidade), seja ativo e esteja em pleno movimento. Por exemplo: quando encontrares alguém trabalhando, em quaisquer esferas de atuação que for possível, para Deus, é o Reino de Deus em movimento. Daí porque Deus exige que o OBREIRO a quem Ele vocacionou, não seja negligente.
OBS: Analisar a imposição de mãos: vocação, reconhecimento, separação e consagração.
3-Continuar crescendo, v. 15. “Medita estas coisas, entrega-te a ti mesmo inteiramente a elas, para que o teu aproveitamento apareça a todos”. Ele deveria se concentrar inteiramente em ser um exemplo dos fiéis: estudando, ensinar publicamente e mantendo uma vida agradável a Deus, para que os homens vissem o seu crescimento: na graça e no conhecimento.
4-Ter cuidado de si mesmo e da doutrina cristã, bíblica, ortodoxa. Para que a ortodoxia seja inseparável da piedade; para que a Sã Doutrina seja inseparável da vida diária; para que o nosso credo doutrinário seja inseparável da nossa conduta, é preciso que o homem de Deus seja DISCIPLINADO diariamente a ter cuidado de si mesmo e da doutrina. Se o obreiro tiver bom tramite, boa visão e aceitação, pregar e ensinar com eloquência e a sua vida não tiver conduta por onde passa, é uma contradição, está tudo errado e seu trabalho perdido.
CONCLUSÃO: Primeiro Deus trabalha em nós pela Palavra para Depois a igreja ou grupo que está sob nossos cuidados seja por ela também trabalhado.
Daniel Matos Chaves – 1º Secretario da mesa diretora da CEADEMA
pastor auxiliar AD em São Luís MA – IADESL área 02
João Paulo
