A influência da pós-modernidade, marcada por uma visão subjetivista da realidade, tem promovido uma abordagem interpretativa em que a noção de verdade objetiva e absoluta é rejeitada. Em seu lugar, adota-se a ideia de que toda compreensão do mundo é relativa ao ponto de vista e à opinião individual. Nesse contexto, o que é considerado verdade passa a depender da percepção de cada sujeito, resultando em uma multiplicidade de verdades simultâneas e, muitas vezes, conflitantes. Quando essa perspectiva é aplicada ao campo religioso, observa-se o surgimento de uma pluralidade religiosa que nega a existência de uma única religião verdadeira. Em vez disso, defende-se que todas as religiões são igualmente válidas e que cada uma pode conduzir à salvação, dependendo da crença de quem a professa. Essa relativização da verdade religiosa é um dos traços característicos do pensamento pós-moderno e representa um desafio significativo à concepção tradicional de fé baseada na revelação divina como verdade absoluta.

A pluralidade religiosa ocorreu em função da crescente influência das religiões orientais no Ocidente, aliada à desconstrução da noção de verdade promovida pela pós-modernidade — fundamentada em uma perspectiva subjetivista —, o que tem contribuído significativamente para a gradual desvalorização dos valores judaico-cristãos na sociedade ocidental. Nesse contexto, onde a disputa ocorre no campo das ideias, observa-se um intenso embate cultural e filosófico.

As universidades, enquanto centros de formação intelectual, tornaram-se ambientes onde os pressupostos cristãos frequentemente são questionados ou mesmo rejeitados. A mente dos jovens cristãos, ao ingressarem no ambiente acadêmico, é submetida diariamente a análises e argumentações que muitas vezes entram em conflito com sua fé. Como resultado, um número considerável de estudantes que professavam a fé cristã acaba, durante ou após a conclusão do curso, abandonando suas convicções religiosas. Diante desse cenário, o Ocidente já é considerado uma civilização pós-cristã — isto é, uma sociedade que, embora tenha sido profundamente moldada por princípios cristãos no passado, hoje vive à margem desses valores, reinterpretando-os ou até mesmo rejeitando-os por completo.

O que fazer para atrair o mundo a Deus e manter firmes aqueles que professam a fé em Cristo? A resposta, sem dúvida, está na pregação fiel da Palavra de Deus. Se o Evangelho é, em sua essência, o poder de Deus para a salvação, ele também é o poder que sustenta e fortalece o jovem cristão, mantendo-o firme sobre a Rocha eterna.

O método escolhido por Deus para levar a salvação ao mundo e edificar a sua Igreja sempre foi — e sempre será — a pregação da sua Palavra. O que determina se uma igreja permanecerá firme ou cairá é justamente o método que ela adota. Se recorrer a outros artifícios e desprezar a pregação fiel da Palavra, certamente cairá. Por outro lado, o que manterá uma igreja de pé será, sem dúvida, a pregação — não qualquer pregação, mas a exposição fiel e cuidadosa das Escrituras. Afinal, como dizia Steven Lawson (2024) se o púlpito for fraco, a igreja será fraca; mas se o púlpito for forte, a igreja também será forte.

Embora não sejam todos, muitos líderes não acreditam na santificação que ocorre por meio da pregação da verdade de Cristo (Jo 17.17). Em vez disso, estão mais preocupados em adotar os métodos do pragmatismo. O pragmatismo, por sua natureza, não se preocupa com a correção bíblica ou teológica dos meios utilizados; sua ênfase recai exclusivamente sobre os resultados. Ou seja, sua principal pergunta não é se o método é fiel às Escrituras, mas se ele funciona. Em outras palavras, o pragmatismo consiste em alcançar resultados aparentemente bem-sucedidos, ainda que por meios equivocados. Trata-se de uma lógica que valoriza a eficácia em detrimento da fidelidade — o que representa um desvio perigoso para a missão da Igreja.

Infelizmente, muitas igrejas locais têm abandonado a doutrina bíblica em favor do pragmatismo, na busca por um crescimento rápido e visível. Embora esse método possa, à primeira vista, produzir resultados numéricos expressivos, ele frequentemente falha em promover um crescimento espiritual saudável e duradouro. A pregação fiel da Palavra não se opõe ao crescimento da obra de Deus — muito pelo contrário. O livro de Atos dos Apóstolos registra diversos momentos em que o Espírito Santo atua diretamente no aumento do número de convertidos (At 2.47; 5.14). O problema não está no crescimento em si, mas na negligência da pregação fiel da sã doutrina como fundamento desse crescimento.

Substituir a pregação fiel da Palavra por métodos artificiais ou por estratégias meramente humanas compromete a saúde espiritual dos nossos jovens, tornando-os vulneráveis aos embates e à influência de ideologias contrárias à fé cristã. Uma liderança que ignora a centralidade das Escrituras dificilmente conseguirá manter sua juventude — ou mesmo toda a igreja — espiritualmente viva e sólida.

Embora o apóstolo Paulo, ao escrever a Timóteo, soubesse que muitos irmãos se tornariam negligentes quanto à pregação fiel da Palavra, ele não aconselhou o jovem líder da igreja em Éfeso a recorrer a outros artifícios para manter os crentes daquela comunidade (2Tm 4.1-5). Paulo sabia que o único meio eficaz de edificar um povo exclusivo para Cristo era por meio da pregação constante das Escrituras. O fato de que algumas pessoas rejeitariam a Palavra de Deus não era, para ele, razão para abandoná-la ou adaptá-la, mas sim motivo para confiar ainda mais em seu poder — um poder que se manifesta pela ação do Espírito Santo, que aplica sua mensagem no mais profundo da alma humana. Essa convicção de Paulo não vinha apenas de um ideal teológico, mas de sua própria experiência. Ele testemunhou, inúmeras vezes, como a pregação fiel das Escrituras transformava vidas, moldava culturas e impactava sociedades inteiras. Por isso, ele demonstrava tamanha confiança ao exortar Timóteo a liderar a igreja sob seus cuidados com fidelidade à Palavra, tendo na pregação das Escrituras o seu principal instrumento de ministério.

O líder cristão deve refletir como J.C. Ryle (2018), que comparou os corações humanos à cera e à argila, e a mensagem da Palavra de Deus à luz do sol. Segundo essa analogia, dentro da comunidade cristã existem dois tipos de corações: o coração de cera e o coração de argila. Quando as Escrituras são expostas, o coração de argila se endurece, enquanto o coração de cera se derrete em humildade e quebrantamento diante da luz da Palavra de Deus. Dessa forma, o papel do líder não é forçar as pessoas, mas pregar com fidelidade, confiando que o poder da Palavra realizará, nos corações, aquilo que somente ela pode fazer.

Onde não há a pregação fiel da Palavra de Deus, não pode haver verdadeiro avivamento espiritual entre a juventude cristã. Grandes conferências e congressos, sem a exposição profunda das Escrituras, podem até gerar movimento, mas não produzem avivamento genuíno. Isso porque o avivamento autêntico, gerado pela exposição fiel da Palavra, resulta em transformação não apenas no interior da igreja, mas também na comunidade em que ela está inserida.

Isso pode ser observado já na Igreja Primitiva: por meio da pregação e do crescimento da Palavra, Jerusalém experimentou uma profunda transformação ( At 2–6). Em contraste, durante a Idade Média, a ausência da pregação bíblica fez com que a Europa permanecesse por cerca de mil anos em trevas espirituais. A luz só voltou a brilhar quando as Sagradas Escrituras foram restauradas ao centro dos púlpitos, o que desencadeou a Reforma Protestante.

Embora o período moderno tenha sido fortemente marcado pelo racionalismo, a Europa, no século XVIII, ainda assim testemunhou um notável despertar espiritual, especialmente na Inglaterra, por meio de homens como John Wesley e George Whitefield. Nos Estados Unidos, Jonathan Edwards destacou-se como uma das principais figuras de um poderoso movimento de avivamento que impactou profundamente o país. Esses avivamentos não foram fruto de métodos humanos, mas resultaram da pregação fiel e poderosa da Palavra de Deus.

Portanto, a história nos mostra que o verdadeiro avivamento — aquele que é produzido pela pregação fiel de líderes comprometidos com a verdade de Cristo e que não se resume a um inchaço superficial gerado por técnicas humanas ou movimentos emocionais — é o que realmente promove arrependimento genuíno e quebrantamento profundo na comunidade cristã.

Um avivamento autêntico não se limita às paredes da igreja, mas rompe as barreiras da comunidade cristã e alcança o mundo pós-moderno, influenciando e transformando a própria civilização. No entanto, isso só será possível quando houver líderes dispostos a abrir a Bíblia e expô-la com fidelidade, sem medo de desagradar, sem a pressa de formar multidões de um dia para o outro, mas confiando plenamente na ação soberana do Espírito Santo. É Ele quem, à medida que a verdade de Cristo é proclamada, aplica a mensagem aos corações e forma uma geração de cristãos firmes — inabaláveis diante das águas tóxicas das ideologias pós-modernas.

 

Pr. Natanael Diogo Santos

Auxiliar AD em Coroatá

É pastor auxiliar na Assembleia de Deus em Coroatá-MA.  Bacharel em Teologia pela FAEPI. Pós-Graduado em Teologia do Novo Testamento pelo Seminário Teológico Jonathan Edwards. Cursou grego no Seminário Teológico Martin Bucer. Professor de teologia em várias disciplinas.  Autor de dois livros (Os Dois Testamentos e Quebrando a Idolatria no Meio do Cristianismo) e de artigos publicados no Jornal Mensageiro da Paz e na Revista Obreiro Aprovado (CPAD). Casado com Cristiane L. Machado Santos e pai de Kevellin Caroline L. Machado Santos.

 

 

 

Referência

ALLISON, Gregg R. Teologia histórica: introdução ao desenvolvimento da doutrina cristã. São Paulo: Vida Nova, 2017.

CARSON, D. A. Deus amordaçado: o cristianismo confronta o pluralismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2013.

ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.

FRAME, John. Teologia sistemática: uma introdução à fé cristã. v. 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.

FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.

GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática: completa e atual. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2022.

LAWSON, Steven J. Chamados para pregar: cumprindo o elevado mandato da pregação expositiva. Franca, SP: Defesa do Evangelho, 2024.

RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de Mateus. São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.

VANHOOZER, Kevin J. O drama da doutrina: uma abordagem canônica-linguística da teologia cristã. São Paulo: Vida Nova, 2016.

[1] É pastor auxiliar na Assembleia de Deus em Coroatá-MA.  Bacharel em Teologia pela FAEPI. Pós-Graduado em Teologia do Novo Testamento pelo Seminário Teológico Jonathan Edwards. Cursou grego no Seminário Teológico Martin Bucer. Professor de teologia em várias disciplinas.  Autor de dois livros (Os Dois Testamentos e Quebrando a Idolatria no Meio do Cristianismo) e de artigos publicados no Jornal Mensageiro da Paz e na Revista Obreiro Aprovado (CPAD). Casado com Cristiane L. Machado Santos e pai de Kevellin Caroline L. Machado Santos.