Fazer divisões parece que faz parte da natureza humana. Nunca vi um ser vivo tão obcecado em fragmentar. De onde vem essa inspiração? Será que ela vem de Deus?
Penso no que inspirou Deus em fazer algumas divisões. Vejo Deus dividindo para manter um todo muito bem unido e organizado. Vejo o universo, sublime, glorioso e incomparável; ainda que infinito e incognoscível, em sua plenitude, aos olhos e mentes humanas, mantem-se, mesmo dividido em galáxias, com seus incontáveis astros, em perfeita harmonia.
Vejo Deus criando o corpo humano com seus muitos membros, inseridos em sistemas (respiratório, neurológico, digestivo, reprodutor…) mas, tudo funcionando para que a unidade do corpo seja mantida. As partes existem, mas elas não desfazem a unidade. Parece que Deus divide sempre com o propósito de criar um todo harmonioso.
Quando Deus decidiu alcançar as nações e abençoar todas as famílias da terra, chamou Abraão, e deste vieram os judeus. Estes estavam divididos em doze tribos, mas o propósito de Deus era manter a unidade. Seu projeto sempre foi alcançar não só a nação judaica, mas “todas as famílias da terra”. Eram doze tribos formando um só reino, até que um dia elas estavam divididas em mais de um reino; separadas das outras nações e distantes do propósito que Deus havia estabelecido. Quem alterou o processo? Quem causou essa divisão diferente? O homem, certamente. O propósito do homem em dividir não é igual ao de Deus.
O homem divide para exaltar o que foi separado e, assim, enaltecer-se. É sempre para engrandecer um nome, um ideal, uma mente, um domínio, um poder… é sempre isso…poder! O homem deseja que as “diferenças” sejam postas à lume, para que os eminentes líderes sejam vistos pelos seus próprios seguidores como grandes astros dignos de toda reverência.
As pessoas são divididas de todas as mais diferentes e esquisitas formas; pelas mais esdrúxulas e equivocadas razões. Todos buscam o reconhecimento, o poder, a atenção exclusiva, o posto de dono da razão; cada grupo lutando para defender seus direitos, mesmo que todos os outros grupos tenham seus direitos lançados no lixo. Uma busca doentia para se tornarem o centro das atenções em qualquer situação.
As divisões que o homem faz vem de sua mente doentia. O que inspira o homem a separar surge de um ser que, por um momento, com seu desejo incontrolável em dividir, liderou uma insurreição, prejudicando, temporariamente, a perfeita harmonia existente no Céu. Esta é a origem da inspiração que muitas vezes move o homem. A natureza humana está infectada pelo vírus do pecado, também chamado de o veneno da serpente. É daqui que vem todo o desejo incontrolável do homem de fazer seções.
O que Deus estabeleceu como um só corpo está sendo dividido irresponsavelmente. E esta divisão tem causado tantos prejuízos, os quais nunca teremos condições de calcular. Nada nesta dimensão física e totalmente humana, vai impedir o homem de causar mais e mais divisões. Somente quando o Céu reinar sobre a terra, o poder das divisões humanas será esmagado.
Todo esse comentário sobre a obsessão do homem em dividir para falar acerca do mais glorioso projeto de Deus na terra, a IGREJA. Quando “vemos” e “entramos” no Reino conforme Jesus disse a Nicodemos, passamos a entender o que realmente a Igreja é: Ela é o corpo formado por vários membros, onde cada um destes membros tem sua função específica, mas onde todos trabalham interligados, numa perfeita dependência harmoniosa: servindo e sendo servidos, nutrindo e sendo nutridos, fortalecendo e sendo fortalecidos.
Tenho dedicado minha vida, ao longo de mais de trinta anos servindo a Cristo, pregando, ensinado que não podemos comparar a Igreja de Jesus com qualquer religião ou denominação. Quem já viu e entrou na Igreja sabe que não podemos comparar o Corpo de Cristo com as divisões causadas pelo homem. Sei que o desejo do diabo em “departamentar” a Igreja é insaciável. Se tem algo que o diabo tem vontade de dividir, é a Igreja.
Vemos essa doença de querer dividir o Corpo de Cristo já nos primeiros séculos da era cristã. Lembro-me de Paulo escrevendo aos Coríntios quando naquela Igreja acontecia algumas divisões estranhas. Uns diziam: “eu sou de Paulo”, outros diziam: “eu sou de Apolo”, outros diziam: “eu sou de Pedro”, outros diziam: “eu sou de Cristo”. Paulo pergunta: “Cristo está dividido?” Apesar do esforço de Paulo para impedir tais divisões, elas infelizmente aconteceram e continuam acontecendo ao longo dos anos. Tudo pode ser usado para se criar um grupo diferente do outro. As divisões acontecem pelas razões mais excêntricas que existem. A situação é plangente e altamente infecciosa.
O que a Bíblia diz sobre a unidade do corpo de Cristo nos impressiona. É contundente, incisivo, e não há margens para questionamentos. Mas todos os dias novos grupos ou departamentos aparecem. Tenhamos muito cuidado porque, sem que ao menos imaginemos, podemos está causando uma divisão perniciosa dentro da casa de Deus.
Os crentes foram divididos em conformidade com as doutrinas teológicas pelas quais mais se apegaram; foram divididos em função da maneira como seguiram seus eminentes líderes. Deus, pelo Seu Espírito, trabalhando pela unidade da Igreja, mas o homem, a todo instante, procurando alguma coisa que o motive a fazer uma divisão.
Alguém que contempla o pleno crescimento de seus projetos dentro de uma comunidade, e que já conseguiu inspirar e agregar pessoas diante de seus ideais, começa a pensar: “por que não tirar este grupo daqui, ou suprimir os opositores, criando minha própria comunidade onde eu possa ser o único líder e assim fazer do jeito que eu quero, sem nenhuma intervenção? A final de contas, estas pessoas estão aqui por minha causa, e sou eu quem as alimenta”. E assim surge mais uma denominação. É obvio que muitas dessas divisões não foram criadas por alguns importantes líderes do passado, mas seus seguidores tomaram essa triste decisão. São muitas as razões egoístas por trás de cada divisão irresponsável.
Poderíamos ser apenas a Igreja de Cristo, divididos sim, por cidades, culturas, etnias, mas plenamente unidos pela Vida de Deus em nós. Um só espirito, uma só fé, um só batismo.
Por admirar e seguir um determinado líder, pessoas recebem as mais diversas credenciais: são chamadas de luteranos, wesleyanos, calvinistas, arminianos, etc. Por causa do fervor demostrado no serviço ou na adoração, somos chamados de tradicionais, pentecostais ou neopentecostais. Se a escatologia é nossa doutrina preferida, somos classificados em dispensacionalistas, preterisas, pré-tribulacionisas, pré-milenistas, amilenistas, pós milenistas, e por aí vai. As divisões seguem acontecendo: assembleianos, batistas, metodistas, presbiterianos… não há limites. Vejo Deus unindo, e o homem dividindo. As divisões necessárias e estabelecidas por Deus, como já afirmado, produzem a unidade do Corpo.
Você faz parte de alguma divisão? Está separado por alguma preferência, ou doutrina teológica?
Leio na Palavra sobre a estatura de um varão perfeito (Ef 4.13-16). A unidade e a perfeição previstas por Deus não podem ser pactuadas senão na Igreja. Fora da Igreja, não há unidade; fora da Igreja, não há salvação. Somos membros de um só corpo. Embora Deus tenha dividido os membros do Seu organismo de acordo com suas funções peculiares, podemos ver a perfeita interdependência desses membros dentro de um organismo apenas. Ou seja, os membros estão divididos, sem que estejam separados.
Sejamos a única e verdadeira Igreja de Cristo. O Reino está preparado para a Igreja, não para as divisões ou departamentos humanos. Não vivemos uma divisão, uma doutrina ou uma teologia; vivemos a verdadeira Igreja de Cristo.
Pr Clayton Carvalhêdo de Queirós
Líder da Assembleia de Deus em Triângulo, Dom Pedro-MA.
